quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Primavera...

A primavera chegará,
mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua jardim para recebê-la.
A inclinação do sol
vai marcando outras sombras;
e os habitantes da mata,
essas criaturas naturais que ainda
circulam pelo ar e pelo chão,
começam a preparar sua vida
para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos
devem soar por dentro da terra,
nesse mundo confidencial das raízes,
— e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes
e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes
e já estão todos cor-de-rosa,
como os palácios de Jeipur.
Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar
as árias tradicionais de sua nação.
Pequenas borboletas brancas
e amarelas apressam-se pelos ares,
— e certamente conversam:
mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes,
depois do branco e deserto inverno,
quando as amendoeiras inauguram suas flores,
alegremente,
e todos os olhos procuram
pelo céu o primeiro raio de sol...
***
(Cecília Meireles)

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