domingo, 19 de setembro de 2010

Primavera (novamente)...

Esta é uma primavera diferente,
com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas,
— e só os poetas, entre os humanos,
sabem que uma Deusa chega, coroada de flores,
com vestidos bordados de flores,
com os braços carregados de flores,
e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega.
É certo que a vida não se esquece,
e a terra maternalmente se enfeita
para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem,
no momento que quiserem,
independentes deste ritmo,
desta ordem, deste movimento do céu.
E os pássaros serão outros,
com outros cantos e outros hábitos,
— e os ouvidos que por acaso os ouvirem
não terão nada mais com tudo aquilo que,
outrora se entendeu e amou.
***
(Cecília Meireles)

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